No seu Filosofia da Libertação, Enrique Dussel (1977) apontava a necessidade de uma entrada antropológica, situada, na filosofia e, portanto, em sua ontologia. A função geopolítica da ontologia moderna foi assinalada por Enrique Dussel. O filósofo situava o que estava em jogo na ontologia moderna, a do cogito, ergo sum, através da qual o "centro se impôs sobre a periferia há cinco séculos" (DUSSEL, 1977, p. 10). Para dominá-las, "a filosofia moderna europeia, mesmo antes do ego cogito, mas certamente a partir dele, situa (...) todas as culturas (...) dentro de suas próprias fronteiras como úteis manipuláveis, instrumentos. A ontologia os situa como entes interpretáveis (...)" (DUSSEL, 1977, p. 9). A necessidade de uma ontologia moderna se deveu a um projeto de controle produtivo dos entes interpretáveis, nos quais se reconhece um cogito moderno. A contraface encoberta dessa ontologia de mãos limpas, impressionantemente abstrata e distanciada das baixezas políticas, foi a colonização dos outros, que supostamente não teriam pensamento abstrato, em seu estágio de natureza, primitivo. Os entes externos a essa zona de controle civilizado, por pertencerem ao grau mais baixo do ser, ou à natureza, estariam naturalmente à mercê das forças (náuticas, filosóficas, jurídicas, estéticas, militares, científicas) mantenedoras de sociedades convencidas de seu senso de superioridade autoevidente e universal (não situado). Farei algumas considerações a esse respeito.
Palavras-chave: ontologia moderna; cogito; geopolítica; antropologia.
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